Bispo dom Vilson Dias de Oliveira renunciou nesta sexta-feira da Diocese de Limeira. Arcebispo de Aparecida (SP) assumiu administração e disse que Oliveira ainda pode celebrar missas.
A renúncia do bispo dom Vilson Dias de Oliveira da Diocese de Limeira (SP) foi o assunto comentado nas ruas do município do interior de São Paulo nesta sexta-feira (17). Oliveira estava na função há quase 12 anos e era muito conhecido pelos fiéis. Ele é investigado pela Polícia Civil por enriquecimento ilícito e acobertar supostos abusos sexuais cometidos pelo padre de Americana (SP) Pedro Leandro Ricardo.
O pedido de renúncia do agora bispo emérito foi aceito pelo Papa Francisco e a Igreja Católica nomeou o arcebispo de Aparecida (SP), Orlando Brandes, para administrar interinamente a Diocese de Limeira. Durante o anúncio da saída de Oliveira, o vigário-geral da diocese leu uma carta assinada pelo bispo. (Leia a carta completa no fim da matéria).
“Tem que se afastar para ele mesmo refletir”, analisa um morador de Limeira. A aposentada Beatriz Navarini definiu o caso de dom Vilson como uma “bomba”.
“A gente nasceu no catolicismo, viveu na igreja sempre achando que tudo era perfeito e no fim vem essa bomba”, disse a aposentada.
Outra moradora pede que o próximo bispo seja melhor. “Ele renunciou, vá com Deus e que venha outro melhor para a gente”, disse.
Bens incompatíveis, diz padre
Um padre que trabalhou com o bispo emérito afirmou à EPTV, afiliada da Rede Globo, que as desconfianças contra Oliveira eram comuns.
“A documentação que existe é que ele tem bens que, no meu ponto de vista, são incompatíveis com a nossa vida”, afirmou o sacerdote, que pediu para não ser identificado.
Sobre a acusação, o advogado do bispo emérito afirmou que não iria se manifestar.
Bispo pode celebrar missas
Após assumir a administração da Diocese de Limeira, o arcebispo dom Orlando Brandes afirmou que dom Vilson poderá celebrar missas em igrejas de outras dioceses se for convidado.
“Ele mesmo vai decidir que trabalho vai fazer na igreja. Um outro bispo, se morar em outra diocese, pode convidá-lo a celebrar uma missa, convidá-lo para uma crisma, mas aqui não. Aqui ele renunciou”, explicou o arcebispo.
O arcebispo também disse que, em princípio, o caso está resolvido no âmbito da igreja, mas se descobrir alguma situação que precise ser apurada, levará à Nunciatura Apostólica e ao Vaticano.
“Se houvesse um problema mais grave, de pedofilia, essas coisas mais graves, aí isso volta para o Vaticano, claro. Mas questões da diocese cessam, a não ser que os padres e nós aqui descubramos alguma coisa que precisa ser desvendada. Aí nós vamos a Nunciatura Apostólica e vamos ao Vaticano e lá eles resolvem chamá-lo ou não chamá-lo”.
Investigações da Polícia Civil
Dois inquéritos policiais investigam dom Vilson, um na Delegacia Seccional de Piracicaba (SP) e outro na seccional de Limeira.
O resultado parcial da investigação da Seccional de Limeira foi um documento de mais de 300 páginas que cita denúncias de extorsão para enriquecimento ilícito.
Em um dos casos, de 2012, um então integrante do conselho consultivo de uma igreja em Americana afirma em depoimento que um pároco, na época, disse aos conselheiros que o bispo dom Vilson pediu a doação de R$ 50 mil. Ele deu a entender que aquela quantia era para uso particular, insinuando que seria para compra de um imóvel.
O conselho não autorizou a doação, já que era para uso particular. O padre confirmou em depoimento à polícia que, por causa da negativa da igreja, o bispo pediu a contribuição dos R$ 150 mil para obras na Diocese de Limeira – ameaça que ele tinha feito caso não conseguisse a doação.
Em outra denúncia de extorsão, em 2015, o bispo dom Vilson teria pedido R$ 4 mil a um padre de uma paróquia em Artur Nogueira (SP). O padre disse, em depoimento, que o dinheiro era para construir um poço artesiano na casa de praia de dom Vilson, em Itanhaém (SP), na baixada santista.
Dom Vilson entregou documentos para o inquérito da polícia que confirmam que ele comprou dois imóveis no litoral sul de São Paulo nos últimos quatro anos no valor de mais de R$ 1 milhão.
Em depoimento, ele alegou que tudo foi comprado com dinheiro que vem do patrimônio da família dele e com recursos que ele recebeu das atividades religiosas, e também do salário que recebe da Diocese, R$ 12 mil por mês.
O advogado do padre de Americana Pedro Leandro Ricardo afirmou que o sacerdote nunca cometeu assédio ou abuso sexual.
Leia abaixo a carta completa de Oliveira
“Diz bem o conhecido ditado: ‘um planta, outro rega’!
Queridos irmãos e irmãs, nesses últimos meses enfrentamos todo tipo de cruzes, por meio de ataques à nossa Igreja Particular de Limeira, a mim e a vários presbíteros. Reconheço minhas limitações, mas também levo no coração todo amor que aqui recebi do bom Povo de Deus presente nos 16 municípios que compreendem esta Igreja Particular de Limeira.
Com imensa gratidão, digo-lhes que sempre fui muito bem acolhido e aceito pelo povo desta importante Diocese de Limeira. Hoje me despeço de vocês como Bispo Diocesano e peço minha renúncia por amor à Igreja de Cristo e pelo bem desta Diocese para que os trabalhos pastorais possam continuar crescendo e se fortalecendo com a doação incansável de cada um de vocês que se dedicam ao Reino de Deus.
Foram quase 12 anos de minha nomeação (13/06) que tive a oportunidade de servir ao Senhor e à Santa Mãe Igreja nestas terras, enfrentei com alegria cada desafio da realidade aqui encontrada. Sei que a dimensão pastoral é imensa, e muito trabalhei para isso. No entanto, neste momento, sinto-me pequeno frente à grandeza da missionariedade que esta Igreja Particular tomou em suas proporções.
Levo no meu coração este aprendizado, na confiança e certeza de que a obra é de Deus, e me coloco à disposição da Santa Mãe Igreja para servi-la não importando o lugar e o ministério a mim confiado por Deus daqui para frente.
Minha bênção episcopal na certeza de que o Espírito Santo conduz a Igreja e cada um dos diocesanos que aqui se doaram e se doam no serviço eclesial.
Que Deus, por intercessão de Nossa Senhora das Dores, padroeira da Diocese de Limeira, nos abençoe e nos guarde. Em Cristo Jesus, nossa paz. Com estima,
Dom Vilson Dias de Oliveira, DC”
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