Bispo Dom Vilson Dias, da diocese de Limeira, é investigado por extorsão. Solicitação do dinheiro seria para compra de armários para sua própria casa em Guaíra. Ele nega!
A diocese de Limeira, em São Paulo, já abalada pelo afastamento recente de um padre acusado de assédio sexual, incluindo menores de idade, agora se vê às voltas com outro escândalo, de denúncias de corrupção envolvendo o bispo dom Vilson Dias de Oliveira. Em depoimento na delegacia seccional de Americana, cidade daquela região, o padre emérito Ângelo Francisco Rossi disse anteontem que, em 2012, o bispo dom Vilson lhe pediu R$ 50 mil para pagar a compra de armários para a casa própria do religioso em Guaíra, cidade natal do bispo no norte de São Paulo.
Em depoimento a que O GLOBO teve acesso, o padre Ângelo disse que se recusou a atender ao pedido do superior. Poucos meses depois foi substituído na paróquia da basílica de Americana, onde atuava na ocasião, pelo padre Pedro Leandro Ricardo, alvo das acusações de assédio sexual e também suposto desvio de verbas. Por conta das denúncias, no final de janeiro o padre Leandro foi suspenso de suas funções eclesiásticas por tempo indeterminado. As acusações foram feitas de forma anônima e embasaram a abertura de uma investigação, que corre em sigilo.
O bispo é investigado por casos de extorsão e coação, além de supostamente acobertar denúncias de abuso sexual de menores contra o padre Leandro. Ele nega as acusações. Dom Vilson tem sob seu comando 102 paróquias em 16 municípios paulistas que estão na área de abrangência da diocese de Limeira.
Em nota, a diocese de Limeira e o bispo Dom Vilson informaram que não irão se manifestar, até que o inquérito seja concluído e todas as testemunhas, inclusive as de defesa, sejam ouvidas.
O GLOBO confirmou as informações com fontes que acompanham as investigações, também em segredo de Justiça.
O padre Ângelo narrou que o encontro com dom Vilson ocorreu na casa episcopal de Limeira. Segundo ele, na ocasião, o bispo solicitou que o dinheiro fosse retirado da igreja Santo Antônio de Pádua, em Americana, na época sob o comando de Ângelo.
De acordo com o depoimento, o padre disse ter sido surpreendido pelo pedido, e então levado o assunto à pauta do Conselho Administrativo Financeiro da igreja — órgão composto por representantes da sociedade civil que são fiéis da comunidade.
Na reunião, os conselheiros negaram o pedido de R$ 50 mil ao bispo. Além do depoimento, o padre Ângelo apresentou à polícia uma ata da igreja com o registro desta reunião em 24 de julho de 2012. O padre disse ainda à polícia que o bispo não gostou da notícia de que não receberia o repasse, e que então teria passado a exigir uma contribuição ainda maior, de R$ 150 mil, segundo ele, para obras na diocese de Limeira.
O padre diz ter levado o assunto novamente ao Conselho da igreja, que informou que poderia fazer o repasse se a documentação para a realização das obras estivesse correta. O repasse, porém, não foi à frente. Essa reunião foi registrada em outra ata, de 21 de agosto de 2012, também entregue à polícia.
A polícia ainda questionou o padre sobre uma outra denúncia que envolve o possível sumiço de mais de R$ 1 milhão dos cofres da paróquia Santo Antonio de Pádua. Essa acusação de desvio é atribuída ao seu sucessor, o padre Leandro.
O padre Ângelo confirmou que quando transferiu a administração da igreja Santo Antônio de Pádua ao então padre Leandro, em janeiro de 2013, a instituição tinha R$ 1 milhão em conta bancária. O religioso disse que depois de deixar a paróquia, não acompanhou mais a prestação de contas. Também afirmou que não tem conhecimento de irregularidades que envolvem o padre Leandro.
A reportagem teve acesso ao depoimento de uma outra testemunha que também foi ouvida no inquérito, um ex-membro do conselho da igreja. Esta testemunha confirmou o pedido de R$ 50 mil feito pelo bispo, e disse que o padre Ângelo de fato informou ter R$ 1 milhão em caixa ao deixar a administração da paróquia. Segundo essa testemunha, é possível comprovar a informação por meio de um escritório de contabilidade que na época acompanhava a prestação de contas. Além disso, as atas dessas reuniões do conselho devem estar sob o controle da diocese.
Essa mesma testemunha afirmou que participou de uma reunião após a chegada do padre Leandro à paróquia, em 2013, e que este disse que a igreja não tinha dinheiro em caixa e precisava da colaboração dos fiéis.
A advogada do padre Ângelo afirmou que, como caso corre sob sigilo, nem ela e nem seu cliente podem comentar sobre o depoimento ou outros assuntos relativos a estas denúnicas. A reportagem não conseguiu contato com a CNBB.
O GLOBO procurou desde quinta-feira o núncio apostólico Dom Giovanni Daniello, representante do Vaticano no país, mas ele não entrou em contato até o fechamento desta edição.
O advogado Paulo Henrique de Moraes Sarmento, responsável pela defesa do padre Leandro, disse que não pode se manifestar porque o caso está em segredo de Justiça. Afirmou que o sigilo do caso está acima da liberdade de imprensa e do sigilo de fonte. Sarmento disse ainda que seu cliente é inocente e nega todas as acusações.
As denúncias envolvendo o padre Leandro foram reveladas pelo jornal “Folha de S. Paulo”. O GLOBO confirmou o teor das acusações que vem sendo investigadas e ouviu relatos de supostas vítimas, que não quiseram se identificar.