Pai lamenta morte de jovem dependente químico após receber ‘mata-leão’ de funcionários de clínica durante internação: ‘nunca mais vamos ter nosso filho de volta’

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Jhonny Lopes da Silva, era morador de Araras (SP) e seria levado de maneira involuntária para uma clínica em Sorocaba (SP). Ele morreu depois de receber um golpe de mata-leão durante remoção.

O pai de um jovem de 26 anos, dependente químico, que foi morto após receber um golpe de ‘mata-leão’ durante uma internação, em Araras (SP), na noite da segunda-feira (1º), lamentou a ação dos funcionários que foram contratados pela clínica de reabilitação Estrela de Davi, de Sorocaba (SP). A informação é do g1.

“A força da minha filha e da minha mulher não foi o suficiente para impedir que um deles fizesse isso. Tem dois deles que não fez isso, que não optou por esse lado em momento algum. Mas esse tipo de resgate, eles querem se sentir herói. Então precisa ficar bem atento às clínicas. Eles se prejudicaram e prejudicaram nós, que nunca mais vamos ter nosso filho de volta“, disse Jesus Lopes da Silva.

Os três funcionários envolvidos na ação foram presos pela Guarda Civil Municipal (GCM). O caso foi registrado como homicídio doloso (quando há intenção ou se assume o risco de matar) e vai ser investigado. Segundo a Polícia Civil, Jhonny Lopes da Silva morava no Parque Industrial e seria levado à força para o Espaço Terapêutico Estrela de Davi, em Sorocaba, distante a 160 km de Araras. Na tarde desta terça-feira (2), os funcionários passaram por audiência de custódia, na qual o juiz determinou a prisão temporária.

Em nota, o Espaço Terapêutico Estrela de Davi informou que neste momento busca em conjunto com as autoridades competentes e familiares do acolhido, apurar a totalidade do ocorrido. A clínica ressaltou ainda que empresa que atuou no transporte do acolhido não possui quaisquer vínculos com a Estrela de Davi, nem mesmo em caráter de terceirização (veja o posicionamento na íntegra abaixo).

Internação compulsória

Essa era a 17ª vez que Jhonny era internado por conta da dependência química. O pai contou que pediu à clínica que não fosse usado o golpe de mata-leão durante a remoção. O filho estava na sacada e quando a família conseguiu imobilizá-lo, os funcionários foram chamados para dentro da residência.

“Eu gritei eles ‘vem, vem, vem’ e eles vieram. Ajudaram a segurar, até o momento foi dando tudo certo. Amarrou a mão, amarrou o pé. Depois eles precisariam ir buscar a ambulância que estava há dois quarteirões daqui, eu fui tentar ajudar buscar a ambulância”, contou Silva.

Porém, quando retornou junto com a ambulância, Silva encontrou o filho desacordado.

“Meu menino já estava apagado e minha mulher muito abalada falando que estava tentando e não estava conseguindo enfiar a mão no meio da mão dele [funcionário] e ele ‘deixa comigo, porque eu que sei o que ‘tô’ fazendo, esse é meu trabalho, eu vou apagar ele, mas ele volta, ´pode ficar tranquila, eu sei o que eu estou fazendo’ e assim foi a vida do meu filho embora. Se eu tivesse perto, talvez eu teria ajudado mais meu filho, mas eu não consegui por não estar perto”, lamentou.

O caso

De acordo com a polícia, a família contratou uma clínica de Sorocaba para fazer a internação do paciente. A irmã da vítima, Jaynara Lopes da Silva, disse que o Espaço Terapêutico Estrela de Davi contratou funcionários de uma empresa para fazer a remoção.

Segundo a família, eles amarraram as mãos e os pés do rapaz e aplicaram o “mata-leão” porque a vítima estava muito alterada. Para os familiares, houve excesso na abordagem. Nossa reportagem não havia obtido retorno da clínica responsável pela remoção do paciente até a última atualização desta matéria.

Equipes da Ronda Ostensiva Municipal (Romu) da GCM estiveram no local e levaram os três funcionários da clínica para o plantão da Central de Polícia Judiciária, onde foram presos em flagrante. O velório da vítima começou às 13h e o sepultamento foi realizado às 16h30 no Cemitério Municipal de Araras.

O que diz a clínica Estrela de Davi

“A Estrela de Davi, ressalta que possui mais de 5 (cinco) anos atuando neste segmento, de maneira eficiente e com diretrizes que preceituam primordialmente o bem-estar de seus acolhidos e a sua recuperação social, sendo reconhecida na região pelos bons serviços prestados.

A Estrela de Davi aguarda que os fatos sejam totalmente apurados e esclarecidos para que sejam tomadas as condutas devidas.

A Estrela de Davi ressalta também que, a empresa que atuou no transporte do acolhido para as dependências do espaço terapêutico, e objeto da ocorrência, fora contratada pelos familiares do acolhido, sendo que esta, não possui quaisquer vínculos com a Estrela de Davi, nem mesmo em caráter de terceirização.

De modo que a Estrela de Davi não possui capacidade fiscalizatória sobre a conduta e atos dos funcionários da empresa contratada pelos familiares do acolhido, pois os mesmos não integram o seu quadro de funcionários.

A Estrela de Davi fornece somente os serviços de acolhimento e tratamento à dependência química, não oferecendo o serviço do transporte dos futuros acolhidos para as dependências do espaço terapêutico.

Por fim, o Espaço Terapêutico Estrela de Davi informa que está à disposição das autoridades competentes para auxílio nas respectivas investigações e atribuições de responsabilidades, buscando exclusivamente a verdade real, bem como informa estar prestando todo o suporte aos familiares do acolhido neste difícil momento.”

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