Peça com sátira religiosa é cancelada e produtor fala em ‘censura’

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A peça “Pequenas Igrejas Grande Negócios”, que seria apresentada no próximo sábado (17), em Mogi Mirim (SP), foi cancelada. A sátira com tema religioso causou polêmica na cidade, chegou ao plenário da Câmara e às redes sociais. A representação da Bíblia com nota de R$ 100 foi alvo de manifestação de parlamentares e teve até quem recorresse ao prefeito para impedir o espetáculo. Para o produtor Benê Silva, houve “censura”.

“Fui chamado para uma reunião e havia um tumulto, uma pressão para o cancelamento. É uma censura”, afirma.

Em nota publicada nas redes sociais, a Prefeitura de Mogi Mirim informa que a produtora optou pelo cancelamento “em decorrência de manifestações contrárias”.

Um dos vereadores que se manifestou contra a peça, Samuel Cavalcante (PR), classificou o cartaz com a imagem da Bíblia como desrespeitoso e que o cancelamento ocorreu pelo Executivo, apesar de confirmar que pediu, via assessoria do prefeito, o cancelamento da peça.

Vereador de Mogi Mirim (SP), Samuel Cavalcante pediu ao prefeito o cancelamento da peça "Pequenas Igrejas Grandes Negócios" (Foto: Reprodução/Facebook)

Vereador de Mogi Mirim (SP), Samuel Cavalcante pediu ao prefeito o cancelamento da peça “Pequenas Igrejas Grandes Negócios” (Foto: Reprodução/Facebook)

“Eu solicitei ao prefeito, mas ele já tinha em mente o cancelamento devido cobranças feita por líderes religiosos. A Bíblia é um livro sagrado para nós, cristãos”, defende o parlamentar.

Questionado sobre a possível a interferência do Legislativo em um tema religioso em um Estado laico, Cavalcante alega que “acima de tudo devemos permear o respeito e o bem-estar coletivo.”

“Eu vivo em um país cristão, uma cidade que 98% dela é cristã. Se algo ofende diretamente os direitos de manifestação de culto e agride a liberdade dos cristãos, estes sim estão sendo prejudicados”, opina.

A peça

Segundo Benê Silva, a peça retrata um padre e um pastor de uma pequena cidade, que não são contemplados com grandes receitas, e eis que diante um fato milagroso eles veem a chance de arrebanhar mais fieis e ter mais contribuições da igreja. O produtor ressalta que a peça não é uma crítica aos evangélicos ou católicos.

“É nossa linha de expressão, nossa arte. Vivemos em um Estado laico, onde a política não deve intervir na religião e a religião não deve intervir na política”, diz.

Em nota, Prefeitura de Mogi Mirim (SP) informa que produtora cancelou o espetáculo programado para sábado (17) (Foto: Reprodução/Facebook)

Em nota, Prefeitura de Mogi Mirim (SP) informa que produtora cancelou o espetáculo programado para sábado (17) (Foto: Reprodução/Facebook)

Cartaz é o problema

O vereador Tiago Costa (PMDB) também utilizou as redes sociais e o plenário da Câmara para se manifestar contra o espetáculo. O parlamentar criticou a representação da Bíblia com a nota de R$ 100, mas garante que não interviu para o cancelamento do evento. “Não sou contra a arte. Quem somos nós para cercear algo?”, afirma

Evangélico, Costa disse que se posicionou por considerar que houve um “exagero na dose” no cartaz.

“Não vi a peça. Minha indignação foi a utilização de um símbolo sagrado. Para nós, a Bíblia é a palavra de Deus”.

Segundo o parlamentar, o tema, em nenhum momento, foi alvo de suas críticas. “Nós sabemos que existem os dois lados da religião. Não adianta tapar o sol da peneira”, completa.

Próxima data?

Com o cancelamento em Mogi Mirim, Benê Silva conta que negocia a apresentação da peça na vizinha Mogi Guaçu (SP). Para ele, a “arte é uma avalanche” que não pode ser interrompida.

“Vamos fazer em outra cidade. A gente que lutou tanto contra a censura, ver em pleno 2018 discurso dos anos 1960. Demos um passo atrás para dar dois à frente depois. Sem censura, com muito respeito e sem discriminação.”


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