Equipamento feito por aluno da USP de São Carlos atua em laser de fibras ópticas; trabalho foi publicado na Scientific Reports, uma das principais revistas científicas do mundo.
Uma nova tecnologia baseada em lasers que “confunde” o sinal de transmissão de dados na internet pode dificultar o acesso de hackers e aumentar a segurança na navegação na rede.
A pesquisa foi realizada pelo analista de desenvolvimento de sistemas Thiago Roberto Raddo, durante seu doutorado em engenharia elétrica na Universidade Livre de Bruxelas (VUB), na Bélgica, feito por meio de uma parceria acadêmica com a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP), onde também desenvolveu o mestrado.
O trabalho foi publicado na Scientific Reports, do grupo Nature, uma das principais revistas científicas do mundo.
Confundindo sinal
O equipamento foi desenvolvido para atuar em fibras ópticas, que são filamentos de vidro da espessura de um fio de cabelo que transportam dados por meio da propagação da luz.
Ele propõe interferir no laser que produz a luz, confundindo o sinal e tornando-o imprevisível e, dessa forma, dificultando o acesso às informações compartilhadas entre os usuários da internet.
“A partir do momento que um sinal de luz desordenado é usado para transmissão de dados, se torna muito mais difícil um usuário não autorizado ou um espião ter acesso à informação que está sendo enviada ao destinatário”, explica Raddo.
A ação do sinal imprevisível gerado pelo laser criptografa a informação, evitando que pessoas não autorizadas acessem o conteúdo transmitido.
Força mecânica externa
Para gerar essa desordem no sinal emitido, o laser recebe a aplicação de uma força mecânica externa.
“Nós utilizamos um suporte feito de alumínio que reveste o laser a fim de exercer pressão sobre o dispositivo. Esse suporte é composto por dois parafusos e uma pequena haste de metal. Quando eles são fortemente aparafusados, a força é aplicada no laser por meio da haste de metal”, explicou Raddo.
A solução tem baixo custo e pode ser facilmente replicada, segundo o pesquisador. “O laser atua sem nenhum aparato complexo ou qualquer tipo de realimentação óptica. Isso é inédito na ciência atual. Essa tecnologia pode melhorar o nível de segurança de uma rede de telecomunicação ou de um sistema de transmissão. Além disso, pode ser aplicada para a geração de números pseudoaleatórios, ou em técnicas de criptografia”, afirmou.
A segurança virtual é um dos temas mais recorrentes no mundo da tecnologia. O Brasil é o 4º do mundo que mais sofre com cibercrimes, segundo o último relatório Norton Cyber Security Insights. De acordo com o estudo, realizado em 2016, mais de 42 milhões de brasileiros foram afetados por criminosos virtuais, o que acarretou em um prejuízo na casa dos R$ 32 bilhões.
Testes
Para comprovar que o laser estava de fato transmitindo um sinal desordenado foram realizadas uma bateria de testes. “Utilizamos diversos equipamentos e técnicas para analisar o sinal no laboratório. Além disso, colhemos vários tipos de dados experimentais do laser para depois processarmos no computador e executar diversas métricas de medição do sinal e todos os testes e métricas indicaram que o sinal de fato era desordenado”, explicou.
O pesquisador garante que a desordem causada no laser não pode confundir as informações transmitidas.
Não há previsão para a tecnologia entrar no mercado. Ainda é necessária a realização de novos testes envolvendo a transmissão de dados. O pesquisador também pretende aperfeiçoar a técnica baseada na aplicação de força externa com o intuito de aprimorar e tornar o sistema mais robusto e desenvolver um laser com força externa já integrada, ou até mesmo que gere sinais desordenados sem a necessidade de força externa.
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