PMs que estavam no local não participam da reprodução simulada.
A Polícia Civil começou, por volta das 18h40 desta terça-feira (1), a reconstituição da morte de Ágatha Félix, de 8 anos, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. A reprodução simulada começou ao anoitecer para que as condições do momento em que Ágatha foi baleada fossem semelhantes às do dia do crime.
A criança voltava para casa com a mãe em uma Kombi quando foi baleada no dia 20 de setembro. Ela foi levada para o Hospital Getúlio Vargas, mas morreu no dia seguinte.
Cinco testemunhas farão parte da reconstituição. Os policiais que estavam próximos ao local em que a menina foi baleada não participam. A mãe de Ágatha, muito abalada, também não estará presente.
“Nós temos 70 policiais empenhados nessa ação, dentro eles quatro peritos da delegacia de homicídios da capital e nós vamos fazer todas as medições e confronta-las com as versões apresentadas na delegacia”, explicou o diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa, Antônio Ricardo Nunes.
A polícia vai tentar descobrir exatamente o que houve na noite do dia 20 de setembro. A PM chegou a afirmar que policiais atiraram para se defender de uma agressão, e que houve confronto. A família garante que não houve tiroteio. PMS ouvidos na Delegacia de Homicídios da Capital afirmaram que pelo menos dois tiros foram disparados na ocasião.
“Nós esperarmos chegar a conclusão hoje de quem efetuou o disparo que matou a menina Agatha. A ideia da reconstituição é exatamente saber se houve confronto ou não”, afirmou Antônio Ricardo.
Com o trabalho, a polícia espera chegar a mais detalhes de como aconteceu a morte. Um laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) indicou que um fragmento de projétil encontrado no corpo da menina é “adequado ao tipo fuzil”.
O documento diz ainda que bala está amassada e que não há elementos técnicos para “determinar o calibre nominal, número de direcionamento das raias, bem como de microvestígios de valor criminalístico, fato que o torna inviável para o exame microcomparativo”.
A Polícia Militar, normalmente, utiliza dois tipos de calibre de fuzil: 762 ou 556. Por alguma questão técnica, a ranhura (assinatura do tipo de calibre) não está presente no fragmento que foi encontrado no corpo de Ágatha. Por isso, não foi possível fazer a comparação com as armas da Polícia Militar periciadas.
“Próximo ao local que ocorreu o fato nós já vimos que tem um poste que apresenta sinais de disparo de arma de fogo e existe a possibilidade desse disparo ter sido efetuado em direção a esse poste, ter resvalado e acertado essa menina. Essa é uma hipótese que está sendo estudada pela perícia”, explicou o delegado.
A Comissão de Direitos Humanos da OAB também acompanhou o trabalho de reconstituição da morte da menina Ágatha Félix, no Complexo do Alemão, nesta terça-feira (1).
Mãe passou mal
Para o advogado Rodrigo Mondego, representante da comissão da OAB, o trabalho desta terça-feira pode ser determinante para um desfecho do caso.
“A gente acredita que esse crime vai ser solucionado e a gente vê que tudo está transcorrendo na velocidade que a família espera e que a Comissão de Direitos Humanos espera, para que o responsável pela morte da Agatha seja responsabilizado pelo seu crime”, comentou Rodrigo.
O representante da OAB também explicou porque a mãe de Ágatha, Vanessa Francisco Sales, não pode participar da simulação desta noite.
“A mãe da Agatha passou mal. E não teve condições de estar presente. Ela não está aqui porque não teve condições de estar aqui. É um trauma muito grande pra Vanessa”, explicou Rodrigo.
Caso semelhante segue sem explicação
Jaqueline Nunes Cardoso, mãe de Karolayne Nunes de Almeida Alves, também esteve, nesta terça-feira, na região da Fazendinha, no Complexo do Alemão, mesmo local onde Agatha Félix foi baleada. Ela veio pedir justiça pela morte da filha, que aconteceu em janeiro de 2018. Segundo ela, os dois casos são muito semelhantes.
“A gente não é moradora da comunidade. Minha filha estava grávida de seis meses e veio comer um lanche aqui, depois de sair da igreja. E foi a mesma história. A mesma coisa”
“Ela estava com o esposo dela, no carro dela. Eles alvejaram por trás do carro, falando que era uma moto que tinha passado”, contou Jaqueline.
A mãe de Karolayne disse que veio até o local para prestar solidariedade aos parentes de Ágatha e pedir justiça pela morte da filha.
“Eu senti vontade de abraçar a mãe (da Agatha). Eu não sei, mas me deu vontade de vir pra poder ter justiça. Eu quero justiça. Quantas Ágathas e quantas Karolaynes terão que morrer pra alguém fazer alguma coisa. Talvez se eu fizesse alguma coisa na época não tivesse acontecido com a Ágatha”, disse.
A Comissão de Direitos Humanos da OAB prometeu acompanhar as investigações sobre a morte de Karolayne e pedir explicações para a polícia civil sobre o caso.
Tiro nas costas
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) indica que a menina levou um tiro nas costas, e que seu corpo tinha apenas uma perfuração. Ágatha morreu com ferimentos no fígado, rim direito e vasos do abdômen.
PMs que atuavam no Complexo do Alemão na noite de sexta-feira (20) afirmaram, em depoimento na Polícia Civil, que dispararam pelo menos duas vezes naquela noite. O objetivo deles, segundo depoimentos, era se defender de tiros disparados por criminosos. O motorista da kombi onde a menina estava afirma que não havia troca de tiros quando ela foi baleada.
Pelo menos 12 PMs foram ouvidos na segunda terça-feira. Integrantes do grupo afirmaram que foram alvejados por um bandido na garupa de uma moto, e que depois do ataque traficantes teriam atirado de diferentes pontos do Alemão em direção a policiais.
Pelo menos sete armas – duas pistolas e cinco fuzis – foram apreendidas e periciadas no ICCE.