Segundo o delegado, ele tem 37 anos e queria ‘despertar uma discussão’ e foi liberado após depoimento. Suéllen Rosim (Patriota) será a primeira mulher e cidadã negra a comandar a cidade em 124 anos de história.
A Polícia Civil identificou o autor das ofensas racistas postadas nas redes sociais contra a prefeita eleita de Bauru (SP), Suéllen Rosim (Patriota). Segundo o delegado Eduardo Herrera dos Santos, o suspeito é um homem negro de 37 anos que queria “despertar uma discussão”. A identificação do autor foi anunciada durante coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (3).
O homem, que é investigado pelo crime de injúria, prestou depoimento e foi liberado. “Neste momento as investigações prosseguem e a tipificação penal, como inicialmente foi feita como injúria racial, ela permanece. Neste momento não temos mudança quanto à tipificação. Pelo contrário, existe a possibilidade sim de que seja acrescentada a tipificação também de uma eventual falsidade pelo perfil falso que foi criado. Não há impedimento quanto a conduta pelo fato de ele ser negro e ter praticado uma conduta de ofensa racial contra outro negro”, diz Herrera.
O delegado disse que o suspeito, morador de Bauru, criou dois perfis, um no WhatsApp e outro em rede social. “Foi um trabalho intenso de investigação. Foram utilizadas várias técnicas investigativas, como quebra de dados e principalmente as técnicas tradicionais que possibilitou que chegássemos até ele, e depois de entrevistá-lo, apesar de inicialmente a negativa, confessou detalhadamente como praticou o fato”.
As mensagens postadas na internet chegaram ao conhecimento da prefeita eleita, que registrou um boletim de ocorrência durante o segundo turno. Em um dos trechos da mensagem postada no grupo, o agressor diz “não podemos eleger aquela mulher com cara de favelada para ser nossa prefeita. Essa gentinha irá afundar Bauru”. Em outra mensagem, o agressor diz: “não tenho nada contra, mas essa gente de pele escura, com cara de marginal administrado essa cidade, será o fim”.
Ameaça de morte
Na terça-feira (1º), Suéllen voltou à delegacia para prestar depoimento sobre as ofensas racistas e também denunciou uma ameaça de morte recebida por e-mail. Na mensagem, o homem se identifica, a ofende de ‘macaca’ e alega que vai comprar uma pistola no Rio de Janeiro para matá-la na casa.
De acordo com o delegado, a mensagem foi anexada ao primeiro boletim de ocorrência e será investigada pela Polícia Civil como injúria racial, a princípio. Neste ataque com ameaça de morte, nenhum suspeito foi identificado.
Durante entrevista ao G1, Suéllen disse que espera que os envolvidos sejam identificados e punidos pela lei. “Práticas de injúria racial devem ser combatidas independentemente de quem veio e da motivação. Não se levanta uma bandeira disseminando ódio. As autoridades continuaram tomando as providências necessárias para o caso. Assim como nos outros comentários e a ameaça que recebi”, diz Suéllen.
“É um absurdo a gente ainda ter que ouvir esse tipo de palavra, dessas questões raciais. É inadmissível. Lamento muito. A gente tem tanta coisa pra discutir da cidade, tantos problemas no município e a gente ter que discutir um assunto tão pesado”, afirma.
Apoio
O Conselho da Comunidade Negra de Bauru se manifestou sobre o caso e divulgou uma carta de repúdio aos ataques. Informou também que acompanha as investigações. A Central Única das Favelas (Cufa Global), e o Instituto da Mulher Negra Geledés também manifestaram apoio à prefeita eleita.
Nesta terça-feira (1º), a Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa (FJLP) emitiu uma nota em apoio à prefeita eleita, que é jornalista. A entidade repudiou “o ataque covarde e imoral desferido pelas redes sociais com foco na questão racial e de gênero” contra Suéllen, reforçou a importância dos profissionais da imprensa para a manutenção da democracia e expressou solidariedade à prefeita eleita.
A FJLP disse ainda que condena “toda e qualquer manifestação de ódio e discriminação racial e de gênero para consigo e seus pares” e requer das autoridades competentes a punição dos infratores.
“É uma minoria que ataca, mas precisa ser combatida. Porque eu ainda acredito muito que as mensagens de carinho que eu recebi foram muito maiores. Que a Justiça seja feita para que essa pessoa não faça isso com outras pessoas”, comenta a prefeita eleita.
Eleição em Bauru
Suéllen foi a candidata à Prefeitura de Bauru mais votada no primeiro turno entre os 12 candidatos que disputaram. Ela teve 57.844 votos, o que representou 36,12%.
Com essa atuação, ela foi ao segundo turno na disputa de votos com o segundo colocado, Dr Raul (DEM), que ficou com 53.299 votos (33,28%) na votação de 15 de novembro.
Já no segundo turno, Suéllen foi eleita prefeita de Bauru com 55,98% dos votos (89.725), mais de 19 mil a frente do Dr Raul, com 44,02% (70.558 votos). Essa vai ser a primeira vez que Suéllen ocupa uma cargo público. Também será a primeira vez que uma pessoa negra, e uma mulher, vai comandar a Prefeitura de Bauru em 124 anos de história da cidade.
Antes dela, apenas Estela Almagro, que foi eleita vereadora, ocupou o cargo de vice-prefeita nos dois mandatos de Rodrigo Agostinho.