Mulheres de 18 anos foram trazidas de Belém, no Pará, e passavam por testes para avaliar quanto suportariam carregar dentro do corpo; objetivo era que levassem 1 quilo de drogas. Vítimas eram obrigas a inserir objetos nas partes íntimas e a engolir cápsulas com farinha como “treinamento”.
Duas jovens de 18 anos foram libertadas de um cativeiro, em uma casa no distrito de Jundiapeba, em Mogi das Cruzes (SP), nesta sexta-feira (28). Segundo a polícia, as duas mulheres de 18 anos foram trazidas por uma mulher, de Belém, no Pará, e passavam por treinamento para atuar como “mulas” para o tráfico internacional. Um homem de origem nigeriana, de 34 anos, foi preso no local. O cativeiro foi descoberto em uma ação da PM.
De acordo com a polícia, as jovens estavam no imóvel há mais de um mês e passavam por um “treinamento” para levar drogas dentro do corpo. Na casa, foram apreendidos objetos com farinha dentro que elas eram obrigadas a engolir e a inserir na vagina. O objetivo era que suportassem um quilo. Uma delas disse que sofreu lesões nas partes íntimas.
Ainda segundo a polícia, elas eram proibidas de sair, de falar com pessoas de São Paulo e de fazer novas amizades. Quando disseram que não suportariam levar as drogas, foram informadas que teriam que arcar com os custos de R$ 1,5 mil que a quadrilha teve para trazê-las a Mogi das Cruzes.
As vítimas ainda contaram que foram levadas até o bairro de Guaianases, em São Paulo, onde experimentaram calcinhas e sutiãs com enchimento que seria preenchido com drogas. Uma delas disse que o sequestrador considerou que tinha a “bunda grande demais” e que ficaria difícil disfarçar a droga desta forma.
Libertação
A Polícia Militar chegou à casa, na Avenida Áurea Martins dos Anjos, por causa de uma denúncia de uma pessoa que se identificou como da Polícia Federal de Santa Catarina, mas uma das vítimas disse que tinha conseguido pedir ajuda pelo celular.
Quando os policiais chegaram, ninguém atendeu. Mas, como eles ouviram choro de mulher, decidiram entrar. Foi então que encontraram as duas jovens e o suspeito.
Cães farejadores da PM foram levados ao imóvel, mas não encontraram drogas. Havia apenas as embalagens com pó branco para o “treinamento”, que provavelmente é farinha.
O caso foi registrado como sequestro e cárcere privado, além de tráfico de drogas e associação para o crime. A prisão de Chijioke Anthony Okafor foi comunicada ao Consulado da Nigéria.
Os policiais apreenderam ainda documentos, um notebook, celulares, passaportes e uma balança, além dos invólucros com farinha.
“Recrutamento”
De acordo com os depoimentos das vítimas, ambas foram procuradas em Belém por uma mulher que se identificou como “Luciana” e propôs um trabalho com remuneração de R$ 8 mil. O contato com uma delas começou por uma rede social. As jovens teriam que levar objetos a outros países com passagem, hospedagem e alimentação pagas. As duas, porém, disseram que não sabiam o que levariam.
As vítimas não se conheciam e vieram a São Paulo em datas diferentes, onde encontraram “Luciana” na estação Brás do metrô e foram trazidas à casa onde eram vigiadas por Chijoke. Apesar de não poderem sair e de ter as comunicações restritas, as duas puderam manter o celular.
Depois de serem obrigadas a inserir os objetos no corpo, as jovens disseram que queriam desistir, mas foram informadas que para isso teriam que pagar R$ 1,5 mil. Uma delas disse ter ouvido pessoas, que não sabe identificar, exigindo R$ 3 mil para que elas fossem liberadas.
As jovens foram encaminhadas para um abrigo em Mogi das Cruzes até que tenham uma passagem para voltar para a casa.