Polícia pede prisão de suspeito de dirigir carro que atropelou e matou ciclista em SP

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Marina Kohler Harkot, de 28 anos, pedalava na Avenida Paulo VI no domingo (8). Investigadores tentam localizar motorista responsável pelo crime, que já foi identificado.

A Polícia Civil pediu na tarde desta terça-feira (10) a prisão do homem identificado como suspeito de dirigir o carro que atropelou e matou a ciclista Marina Kohler Harkot, de 28 anos, na madrugada do último domingo (8), na Zona Oeste de São Paulo. Caberá à Justiça decretar ou não a prisão preventiva dele. Até a publicação desta matéria, ainda não havia uma decisão judicial a respeito do pedido.

De acordo com a investigação, José Maria da Costa Júnior (veja foto acima) é o motorista do Hyundai Tucson que atingiu Marina, a cicloativista que pedalava na Avenida Paulo VI, na região do Sumaré. Um motociclista, que estava no local e viu o acidente, seguiu o veículo e anotou a placa dele.

Com essa informação, a polícia localizou na madrugada desta terça o automóvel que atropelou Marina. Ele estava dentro de um estacionamento no Centro da cidade. O para-brisa dianteiro estava estilhaçado, devido ao impacto com a ciclista no momento do atropelamento.

Segundo os funcionários do estabelecimento, o dono do carro é José Maria, que mora num prédio vizinho. Os policiais chegaram a ir até o apartamento que ele alugava, mas o imóvel estava abandonado. Uma porção de maconha foi apreendida no local.

Os agentes também fizeram buscas em outro imóvel onde José poderia estar, este em Inconfidentes, cidade de Minas Gerais, mas não o encontraram. O caso é investigado pelo 14º Distrito Policial (DP), em Pinheiros, como ‘homicídio culposo (sem intenção de matar) na direção de veículo automotor e fuga de local de acidente’.

O Hyundai Tucson foi levado para a delegacia na madrugada desta terça-feira (10). O veículo estava no nome de outro homem, que alegou que o carro foi vendido em 2017 — informação confirmada pelas investigações. A placa do carro também é de Inconfidentes (MG).

Por causa da lei eleitoral, eleitores não podem ser presos a partir de cinco dias antes das eleições, que acontecem neste domingo (15). Caso a Justiça decrete a prisão do motorista que atropelou a ciclista, a prisão só poderá ocorrer até a meia-noite desta terça. Depois começa o período eleitoral a partir da madrugada de quarta-feira (11). Até dois dias depois das eleições a policia só poderá fazer prisões em flagrante.

Advogados telefonaram para a delegacia e podem apresentar o motorista. Nenhum entregou uma procuração do suspeito, no entanto, confirmando que defende José Maria. De qualquer modo, a polícia pede para, quem tiver informações sobre o paradeiro dele, ligar no telefone 181 do Disque-Denúncia. Não é preciso se identificar.

A prisão preventiva é aquela no qual o suspeito fica detido até ser julgado por um crime. No pedido que fez à Justiça, o 14º DP argumentou que a prisão de José Maria é necessária à investigação porque ele continua em fuga desde que atropelou e matou Marina.

“Prender esse cara que fez isso é o que se espera. É o que manda a lei. A polícia tem que prender esse cara e esse cara tem que ir a julgamento”, disse o marido de Marina, Felipe Burato, à reportagem. “Mas para a gente, isso não vai trazer a Marina de volta. Isso não vai justificar a luta dela, não vai valer a luta dela. Para a gente, o que vale a luta dela é que isso [atropelamento com morte] não aconteça com mais ninguém”.

“Mas as pessoas morrem e não têm essa visibilidade que a Marina está tendo. Pedalar para a gente, agora e cada vez mais, é um ato político”, afirmou Felipe.

A policial militar Mariana de Morais Braga estava de folga no local do atropelamento e contou o que viu no domingo. “Ele [o motorista] não parou em nenhum momento. E mesmo após o impacto, ele fugiu. Ela [Marina] estava sem capacete, sem roupa refletiva, mas a via era bem iluminada. Provavelmente, ele poderia, com certeza, vê-la”, disse a PM Mariana.

A velocidade da Avenida Paulo VI, onde o acidente ocorreu, é de 50km/h e possui quatro faixas. A vítima estava na última, próxima ao parapeito.

Polícia encontra carro que atropelou e matou cicloativista; motorista continua foragido — Foto: Rodrigo Rodrigues/G1 SP

Cicloativista e pesquisadora

Marina era cicloatista, e tinha a bicicleta como principal meio de transporte. Além disso, também era pesquisadora de mobilidade urbana. Atuou no Conselho Municipal de Transporte e Trânsito e foi coordenadora da Ciclocidade (Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo).

Os pais de Marina lembraram o lado ativista e pesquisador da filha na luta pelo uso seguro da bicicleta como meio de transporte urbano. “O meio de transporte dela era a bicicleta. Não fazia sentido para ela usar ônibus, usar carro, mesmo na chuva”, afirmou Paulo Garreta Harkot, pai de ciclista.

“Minha preocupação sempre foi essa, como mãe, de dizer: ‘filha, mas, veja bem, a bicicleta é frágil, ela é vulnerável’. E ela, de certa maneira, sempre resistiu a isso, acreditando que a bicicleta, estando ali como meio de transporte, ia ser respeitada pelos carros por ser um processo de educação”, disse Maria Claudia Kohler, mãe de Marina.

Cicloativista morre atropelada na Zona Oeste de SP — Foto: Reprodução/Instagram

Homenagens

Ativistas e colegas homenagearam Marina na segunda-feira (9). Eles escreveram frases nas avenidas Paulo VI, onde o atropelamento aconteceu, e Sumaré, que fica próxima.

Além das frases no asfalto, ocorreu um protesto, no domingo (8), em diversos pontos da cidade de São Paulo pedindo justiça pela ciclista e mais segurança no trânsito.

Os manifestantes foram de bicicleta até a Avenida Pacaembu, onde o corpo de Marina era velado pela família, pararam na porta e bateram palmas.

Frases são escritas nas Avenida Sumaré e Paulo VI, na Zona Oeste de SP, em homenagem à cicloativista Marina Kohler Harkot. — Foto: Rodrigo Rodrigues/G1 SP

Emocionados, os familiares de Marina saíram na sacada do imóvel e agradeceram o apoio. A mãe de Marina chorou e disse que a família está “totalmente despedaçada” com a tragédia. O corpo de Marina foi enterrado ainda na segunda em Niterói, no Rio de Janeiro.

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