Cinco das vítimas encontradas em área do bairro Botujuru, em Mogi das Cruzes (SP), estavam com mãos amarradas.
Os seis homens e a mulher encontrados enterrados em cinco valas em Mogi das Cruzes neste domingo (22) podem ter sido julgados e condenados no chamado “tribunal do crime”, segundo o delegado Rubens José Ângelo, do Setor de Homicídios da cidade. “Tribunal do crime” é o termo do linguajar policial usado para nomear julgamentos clandestinos realizados por membros de facções criminosas.
Para a polícia, as vítimas foram mortas a golpes de enxada. “O que a gente pode notar: não havia sinais de disparo de arma de fogo. Esses instrumentos que foram arrecadados, seriam uma pá, uma enxada e uma foice, seriam instrumentos que foram utilizados para golpear e matar essas vítimas”, contou Ângelo.
Cinco dos sete corpos estavam com as mãos amarradas, segundo o boletim de ocorrência. O caso foi registrado como homicídio qualificado. “O primeiro passo dessa investigação complexa tem em vista os sete corpos que foram encontrados. Primeiramente é a identificação dos mesmos, descobrirmos a identidade das vítimas para chegarmos à autoria delitiva dos casos. No início das investigações foram realizados primeiros levantamentos: exames periciais, coletas de provas e oitiva de testemunhas”, disse o delegado.
Os corpos foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Mogi das Cruzes, onde passarão por exame necroscópico. As vítimas foram encontradas durante um patrulhamento da Guarda Civil Municipal. A mulher e os homens aparentavam ter idades entre 25 e 43 anos, segundo os investigadores.
Com um dos corpos havia documentos que seriam de um morador de Suzano, de 43 anos, desaparecido em 3 de novembro. Alguns familiares estão sendo ouvidos, mas, segundo o Setor de Homicídios, ainda não é possível confirmar a identidade e será necessário um exame de DNA.
“Todos os corpos estavam em covas bem rasas, alguns ainda com a terra bem fofa. Isso indica que faz pouco tempo que haviam sido enterrados ali”, disse Marcos Vinícius Carbonel, tenente do Corpo de Bombeiros, que ajudou na operação de retirada dos corpos.
Outros corpos, segundo Carbonel, já estavam em estado avançado de decomposição, o que indica terem sido enterrados há mais tempo.
Primeiras suspeitas
A comandante da GCM, Thais Nascimento, disse que, por volta das 13h30, três agentes faziam patrulhamento de rotina no Botujuru. Eles estavam de motocicleta e suspeitaram de um homem. O suspeito correu para uma área de mata na Rua Régis Plínio Batalha e a equipe da GCM não conseguiu alcança-lo.
Os guardas então descobriram uma moita com resquícios de venda de drogas. No local havia marmitex, garfo, papéis usados para embalar entorpecentes e outros materiais. “Eles se depararam com uma pá, uma enxada e uma corda. Achando um pouco estranho, eles acharam que era droga escondida, remexeram a terra e se depararam com a situação de um possível corpo”, afirma a comandante.
No local também foram encontradas latas de cerveja vazias, bituca de cigarro, um pé de chinelo, uma pá e uma enxada. Também foi encontrada uma foice sem cabo, que estava com vestígios de sangue, junto a um corpo, no interior de uma cova.
Até o momento, ninguém foi preso. Os objetos foram apreendidos pelo Setor de Homicídios da Seccional de Mogi das Cruzes, que dará prosseguimento às investigações.
Outros casos
Para o delegado Rubens José Angelo, o caso pode ter relação com três corpos encontrados enterrados em valas em duas ocasiões diferentes, porque o “modus operandi” é parecido.
Em um dos casos, em setembro de 2019, a vítima era o motoboy Bruno Nunes de Souza, de 30 anos, encontrado em uma vala em Jundiapeba. Um segundo motoboy, que também havia desaparecido na época, ainda não foi encontrado.
“O corpo de Bruno foi encontrado em uma cova em Jundiapeba, com o mesmo modus operandi: mataram a vítima com instrumento contundente, ela foi enterrada, depois foi encontrada. Esse caso a gente esclareceu, tem dois indivíduos presos. As investigações prosseguem no sentido de identificarmos outros autores”.
Outros dois corpos foram encontrados em setembro de 2020 em uma vala também em Jundiapeba com as mesmas características de execução. As vítimas no caso eram Gabriel Silva da Conceição, de 23 anos, e a companheira dele, Juliana Cristina dos Santos, de 24 anos.
“Agora nós temos esse outro caso, também desse mesmo modus operandi, com essa mesma semelhança. Nós acreditamos que seja o mesmo grupo, a mesma célula. Eles têm conexão, ligações nesses casos”, concluiu o delegado.