Professor dedica sua vida à educação de crianças indígenas no Xingu

PUBLICIDADE

O professor Sebastião Soares, de 33 anos, dedica sua vida à educação de crianças e adolescentes indígenas da etnia Kuikuro que vivem na aldeia Afukuri, no Xingu. Aulas abordam desde a língua portuguesa até os direitos dos povos indígenas e a importância do voto.

O professor Sebastião Soares, de 33 anos, dedica sua vida à educação de crianças e adolescentes da etnia Kuikuro que vivem na aldeia Afukuri, localizada no Território Indígena do Xingu. Biólogo e professor, ele pediu demissão do emprego no Rio de Janeiro quando surgiu uma vaga para trabalhar na aldeia. Da proposta de trabalho até sua chegada ao Xingu, passou-se apenas uma semana.

O desafio era dar aula de todas as principais disciplinas escolares para as crianças e adolescentes, e ele seria o único professor. Sebastião sentiu medo, tinha dúvidas se daria conta, mas, foi tão acolhido desde a sua chegada que percebeu logo que havia feito a melhor escolha.

A aldeia Afukuri, da etnia indígena Kuikuro, foi criada em abril de 1996, com apenas 15 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, após uma tragédia. Depois que um membro da família foi assassinado, os mais velhos ficaram com medo que outras coisas ruins pudessem acontecer, e decidiram partir à procura de um local onde poderiam viver em paz e segurança. Hoje a aldeia tem cerca de 120 pessoas.

São 25 alunos inscritos, mas nem sempre todos estão presentes nas aulas. As meninas, principalmente, às vezes precisam faltar por conta dos afazeres e dos cuidados com irmãos e filhos.

Sebastião ficou surpreso com a organização da aldeia, com o fato de todas as decisões serem tomadas pelo coletivo. “Isso me encantou muito. Fui aprendendo que as decisões que eu queria tomar precisavam passar pelo coletivo primeiro. Foi um desafio trabalhar com a escuta, para não ter esse movimento colonizador para impor vários conteúdos que eu queria, e sim ter a escuta de trabalhar uma cultura que eu não conhecia. Então eu sempre perguntava tudo, inclusive para os alunos”, conta o professor.

Sebastião ressalta o esforço das crianças Kuikuro para aprender o português: “Eu sempre preciso escrever tudo no quadro e falar devagar para eles entenderem. Imagina a gente sendo educado em outra língua?”.

Muitos alunos já falam perfeitamente o português e ensinaram o professor o idioma kuikuro. Sebastião diz que essa troca de experiências foi fundamental e facilitou as aulas e o convívio com as crianças e adolescentes.

O professor também ressalta a importância de ensinar português e outras matérias na aldeia. “A importância da educação escolar indígena é sobre contribuir para que esses povos possam se dar melhor com o homem branco quando chegarem à cidade, quando quiserem lutar por seus direitos. É para que possam entender as leis, saber o que está sendo falado e entender seus direitos. É para que esses alunos não sejam passados para trás, como muitos indígenas já foram”.

O professor faz questão de falar em sala de aula sobre a importância do voto e de conhecer os próprios direitos. Sebastião organizou um dia só para os jovens Kuikuro de 16 a 18 anos fazerem seu pedido pela internet para tirar o titulo de eleitor. A internet é paga pelos próprios Kuikuro, sem ajuda nenhuma do governo.

Sebastião dedica sua vida à educação das crianças Kuikuro e tem um sonho: “No tempo em que estou aqui, talvez não consiga ver a resposta, mas plantei a sementinha para que essas pessoas saibam seus direitos e lutem por eles”, encerra o professor.

PUBLICIDADE
PLÍNIO DPVAT