Combate ao coronavírus mobiliza voluntários na capital.
Por Daniel Mello – Repórter da Agência Brasil – São Paulo
O combate ao coronavírus tem mobilizado redes de voluntários para atender a famílias pobres e à população em situação de rua da cidade de São Paulo. Um grupo de educadores de cursinhos populares montou a Campanha Solidariedade Pra Mudar SP, uma inciativa que busca conectar doadores às associações e entidades que podem levar alimentos e itens de higiene a populações mais vulneráveis.
Segundo a idealizadora do movimento, a educadora Luna Brandão, a campanha já conta com 150 voluntários e está ajudando 11 entidades a receberem doações. “A gente está conectando doadores, voluntários e famílias que precisam desses alimentos e desses materiais de higiene. Essa grande rede de solidariedade tem crescido demais e tem provado que a solidariedade é um valor muito importante na nossa sociedade”, diz.
“Passamos nas casas das pessoas para pegar as doações, seguindo orientações médicas e sanitárias, e depois distribuímos para as entidades e associações”, explica Luna. O grupo intermediou, de acordo com ela, pelo menos 670 doações. “Essa é a orientação, se manter em casa. Nem todo mundo tem essas condições, mas a campanha de solidariedade tem esse objetivo: que todos possam ficar em segurança em casa”, afirma a educadora.
Ajuda nas ruas
O Coletivo Tem Sentimento atua justamente com pessoas que não têm casa, a população que dorme pelas calçadas da região do centro paulistano conhecida como Cracolândia. Segundo a fundadora, a assistente social Carmen Lopes, nos últimos dias o grupo substituiu as ações de autocuidado, promovidas duas vezes por semana na Praça General Osório, pela distribuição de produtos de higiene.
Normalmente, o coletivo oferece atividades com foco nas mulheres, como oficinas de tranças, maquiagem e tratamento para os pés com uma profissional especializada. Carmen conta que o coronavírus fez com que fosse preciso ocupar o espaço deixado por outros grupos que ofereciam assistência à população de rua do bairro. “A vulnerabilidade deles continua como sempre foi. O que acaba faltando são voluntários para fazer as doações chegarem até essa população. Pessoas que iam, não vão mais”. O vírus acabou afastando a ajuda espontânea.
Em apenas um dia, o Tem Sentimento entregou 250 kits de higiene, 100 sabonetes e 400 garrafas de água. “Hoje, estou recebendo as doações do coletivo na minha casa. Aqui eu faço os kits, separo tudo”, explica Carmen sobre o processo feito de forma praticamente artesanal. Porém, para fazer a distribuição, foi preciso superar outro obstáculo: “O coletivo está tendo muita dificuldade para encontrar EPIs [equipamentos de proteção individual]”, ressalta.
Tecnologia de ponta
Por isso, as ações do Tem Sentimento só estão sendo possíveis graças à ajuda de outro grupo, o Makers Contra Covid. São ativistas que se reuniram para produzir em impressoras 3D os equipamentos chamados de face shild (escudo facial, em inglês) – um protetor de plástico transparente preso no topo da cabeça que cobre o rosto até a altura do ombro. “A gente se posiciona como movimento político que protesta por meio da produção de face shilds, que é um EPI classificado pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]”, explica um dos fundadores, Kadu Braga.
A intenção do grupo é mostrar como a falta de investimentos deixou o sistema de saúde fragilizado para um momento como este. Nesse sentido, eles vêm produzindo os equipamentos para suprir a falta em hospitais a partir de um modelo disponibilizado por um fabricante da República Tcheca. Segundo Kadu, atualmente eles têm conseguido produzir 200 face shilds por dia e estão investindo mais na ideia. “A gente começou a desenvolver um modelo que se chama Viva SUS, que é próprio para uso em UTI”, diz.
Os resultados têm sido tão bons, de acordo com o ativista, que além de hospitais da capital paulista, instituições de saúde até do Chile fizeram pedidos para receber os equipamentos produzidos pelo coletivo.
Kadu explica que fora os centros médicos, o grupo também busca atender entidades que têm levado mantimento a populações vulneráveis. “Os equipamentos que não passam na nossa vistoria para ser usados em hospitais, que têm uma pequena ranhura ou pequeno detalhe errado, esses a gente está destinando para comunidades carentes ou para coletivos que estão entregando cesta básica e kit de higiene em favela”, acrescenta.