Roubos a banco crescem 44% no estado de São Paulo em 2020, diz secretaria

PUBLICIDADE

Assaltos a agências bancárias não frearam nem mesmo durante a pandemia, segundo dados da Secretaria Estadual da Segurança Pública do estado.

O número de roubos a bancos no estado de São Paulo aumentou 44% entre janeiro e outubro deste ano. De acordo com dados estatísticos da Secretaria da Segurança Pública (SSP), o aumento foi de 16 para 23 ocorrências entre 2019 e este ano. A reportagem é de Léo Arcoverde, Júlia Affonso e Isabela Leite, GloboNews — São Paulo.

Chama a atenção de especialistas o fato de esse tipo de crime não ter caído nem mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, contrariando o observado em uma série de outros indicadores criminais. Os roubos a bancos saltaram de 11 para 13 entre abril a outubro deste ano em relação ao mesmo período de 2019, o que representa uma alta de 18%.

Os roubos em geral recuaram de 146.368 para 109.202 casos registrados entre abril e outubro de 2019 e deste ano, o que representa uma queda de 25%, segundo a Secretaria da Segurança Pública. Os roubos de veículos caíram, proporcionalmente, mais ainda no mesmo comparativo: de 26.463 para 15.316, que equivale a uma queda de 42%.

Os roubos a banco se tornaram uma preocupação de autoridades de segurança não apenas do estado de São Paulo em razão dos recentes ataques no país realizados por quadrilhas fortemente armados, que levaram terror a cidades do interior paulista e de estados como Santa Catarina e Pará.

As polícias registraram três grandes ataques, praticados durante a madrugada, nas cidades de Araraquara (SP), Criciúma (SC) e Camutá (PA). As ações das quadrilhas são descritas por especialistas como o “novo cangaço”.

Os ataques a bancos só são registrados como roubos quando há por parte dos criminosos o emprego de violência ou grave ameaça às vítimas. Casos em que agências são alvo de explosões, sem que haja vítimas rendidas, como não é raro em ocorrências de explosões de caixas eletrônicos, são registrados como furto qualificado.

Os números absolutos de registros de roubos a bancos são baixos. Todavia, uma única ocorrência pode envolver montantes expressivos levados por criminosos. No ataque a agências em Araraquara, por exemplo, o grupo conseguiu levar R$ 2,5 milhões em dinheiro, além de joias, estimadas também em R$ 2,5 milhões.

Prisão

A Polícia Civil de São Paulo prendeu nesta quarta-feira (2) uma auxiliar de limpeza de 31 anos suspeita de participação no mega-assalto a uma agência bancária em Criciúma (SC) na madrugada de terça-feira (1).

Policiais de Santa Catarina e de Araraquara trocaram informações entre si em razão da semelhança entre os ataques. Nenhum suspeito do ataque em Araraquara, ocorrido no último dia 24, foi preso até agora.

Para o diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, os ataques recentes a bancos podem ser um efeito colateral do que ele classifica como a “descapitalização” do crime organizado decorrente de dois fatores: investigações recentes da Polícia Federal focadas na lavagem de dinheiro praticada por bandidos desse grupo e a pandemia do novo coronavírus, que provocou abalo no caixa da quadrilha ante grandes apreensões feitas pela polícia e a diminuição da circulação de cocaína para fora do país durante o auge do isolamento social, quando o movimento nos portos e aeroportos de diversos países caiu de forte expressiva.

“A gente precisa levantar a hipótese de que esses ataques mais comuns possam ser um efeito colateral da pandemia. Se o volume total de dinheiro dessas ações não é significativo para o dia a dia das facções, é um dinheiro que funciona como fluxo de caixa, capital de giro, para manter o negócio em atividade. Você não pode simplesmente ficar devendo pela compra da droga, para pagar o salário dos funcionários do crime e assim por diante”, explica Lima.

Na avaliação do Renato, a alta dos roubos a bancos no estado pode estar associada ao “fenômeno novo” marcado pela ação dessas quadrilhas. “Eu acho que tem um fenômeno novo, que precisa ser estudado. Até o ano passado, novo cangaço era um fenômeno associado às fações. Agora, diante da repressão à lavagem de dinheiro e da pandemia, acredito que, talvez, as facções, elas próprias, colocando em prática tais táticas ou estão encomendando ações do tipo a ladrões especializados. É uma nova característica que precisa ser levada em considerada pela polícia e pelo MP. Não dá para achar que é tudo sempre igual. Precisa entender os comportamentos e investigar se estamos diante de um problema seríssimo, que é um efeito colateral de uma boa ação policial.”

Outro lado

Procurada, a Secretaria Estadual da Segurança Pública enviou a seguinte nota à reportagem:

“Ao longo da última década, o Estado de São Paulo registrou sucessivas quedas no número de roubos a banco e suas variações, como roubos e furtos a caixas eletrônicos e a carros fortes. No caso específico dos roubos a banco, a redução é de 90% se compararmos os dados de 2019 (21 ocorrências) aos de 2010 (211 ocorrências). Apesar da variação registrada nos primeiros meses deste ano, as forças de segurança do Estado continuam empenhadas em coibir essa prática e levar seus autores à Justiça. Somente nesta gestão, 64 criminosos envolvidos com quadrilhas de roubos a banco foram presos, incluindo 11 envolvidos no episódio ocorrido em Botucatu, em julho. O caso de Araraquara é investigado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Araraquara, com apoio da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) e acompanhamento da 5ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Banco, do Deic de São Paulo. Diligências e demais atividades investigativas estão em andamento”.

PUBLICIDADE
PLÍNIO DPVAT