Parlamentar estava internado desde o dia 3 de março em hospital de São Paulo. Ele deixa esposa e dois filhos. Ex-instrutor de tiro e ex-PM de SP, foi deputado federal e estadual antes de ser senador.
O senador Major Olimpio (PSL) , de 58 anos, teve morte cerebral confirmada pelos médicos nesta quinta-feira (18). A família informou que “está verificando quais órgãos serão doados”, mas, segundo especialista da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) e nota técnica do Ministério da Saúde, pacientes com o coronavírus não podem ser doadores. Há risco de passar a doença para o receptor.
Orientação do ministério
Uma nota técnica do Ministério da Saúde diz que existe uma “contra-indicação absoluta para doação de órgãos e tecidos” de doadores que morreram com a Covid-19 ativa, com teste para Sars-CoV-2 positivo ou com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS).
Há, entretanto, uma condição para uma possível utilização de órgãos de um paciente de Covid que já esteja entre os que são considerados “curados” ou “recuperados”.
Caso o ex-paciente de Covid morra após 28 dias de recuperação da doença, ainda haverá uma “contra-indicação relativa” para a liberação dos órgãos, mas o processo pode ser validado após análise da equipe do transplante.
Risco para o receptor
Paulo Pêgo, diretor e membro do conselho deliberativo da ABTO, confirma que não é permitida a doação de órgãos de pacientes que morreram pela Covid-19. O vírus ainda pode estar em circulação no corpo e ser transmitido ao receptor. “É muito grave. Um transplante de órgãos, o receptor está imunossuprimido, e o órgão já vem contaminado por Covid, a chance da pessoa que receber o órgão morrer é muito grande”, explica.
O paciente que aguarda o órgão precisa receber medicamentos imunossupressores, segundo o especialista, para não apresentar uma rejeição ao tecido “estranho” inserido durante a cirurgia. Juntar um procedimento arriscado e bastante invasivo com uma infecção da Covid e um sistema imunológico frágil é uma união de fatores grave.
Pêgo esclarece que, após algum tempo que a pessoa já tenha se recuperado da Covid-19, ela pode voltar a ser uma doadora de órgãos, mas, em caso de uma nova doença ou fatalidade, passará pelo processo de avaliação padrão para um transplante: análise da compatibilidade sanguínea, do tamanho do órgão, entre outros fatores.
Ele é o terceiro senador vítima da Covid-19
Sérgio Olimpio Gomes, conhecido como Major Olimpio, estava internado desde desde o início do mês no Hospital São Camilo, na capital paulista. Em 5 de março, ele foi transferido para uma unidade de tratamento intensivo (UTI).
Ele é o terceiro senador vítima da Covid-19. Antes, morreram Arolde de Oliveira (PSD-RJ), aos 83 anos, em outubro do ano passado; e José Maranhão (MDB-PB), aos 87 anos, em 8 de fevereiro.
Natural de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, Olimpio completaria 59 anos neste sábado (20). Foi deputado federal por um mandato e deputado estadual em São Paulo por dois mandatos. Ele também foi vereador na capital paulista. Antes de se dedicar à carreira política, serviu como policial militar no estado de São Paulo por 29 anos.
Além de bacharel em ciências jurídicas e sociais, titulação obtida ao concluir da Academia do Barro Branco da Polícia Militar, exerceu as profissões de jornalista, professor de educação física e de técnica em defesa pessoal. Também foi instrutor de tiro. Antes de ingressar no PSL, em março de 2018, o senador já havia passado por Partido Verde, PDT e Solidariedade.
O senador deixa esposa e dois filhos. Há uma semana, a família publicou nas redes sociais de Olímpio que o quadro dele “era estável e inspirava cuidados” e pedia orações e respeito para que ele continuasse o tratamento.
A piora no quadro de Olimpio provocado pela Covid-19 foi rápida. No dia 4 de março, quando internado, o senador usou as redes sociais para dizer que estava “evoluindo satisfatoriamente” e que “apesar da gravidade e tenho fé que em breve estou de volta ao combate!”.
Apesar da internação, Major Olimpio chegou a participar, em 3 de março de uma sessão de trabalhos do Senado, por meio de videoconferência direto do hospital. Em fevereiro, Olimpio chegou a participar de protestos contra o fechamento do comércio em São Paulo, medida adotada pelo governador João Doria (PSDB), contra a disseminação do coronavírus. Apesar de usar máscaras nos protestos, o senador se mostrava contrário às políticas de isolamento social.
“Chega de aceitar os desmandos deste DESgovernador. Fui às ruas nesta sexta-feira (12 de fevereiro) em apoio à população do nosso estado contra o fechamento do comércio e pela abertura de mais leitos na Saúde. Chega de descaso com o povo!”, disse em sua conta no Twitter.
Atuação no Congresso
Major Olimpio foi eleito, em 2014, deputado federal pelo partido Solidariedade e, na Câmara, votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Em março de 2016, um mês antes da votação do impeachment na Câmara, Olimpio foi vaiado, durante cerimônia Palácio do Planalto, após protestar contra a posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil. Em 2018 – já no PSL e na esteira da popularidade do presidente Jair Bolsonaro – Olimpio se elegeu senador por São Paulo, com mais de 9 milhões de votos.
Foi o candidato mais votado, superando 19 adversários, entre os quais Mara Gabrilli (PSDB-SP), que também foi eleita senadora, e o veterano Eduardo Suplicy (PT-SP) – que não conseguiu uma cadeira na Casa. No Senado, o parlamentar afastou-se do governo Bolsonaro após a saída do ex-ministro da Justiça Sergio Moro e por desentendimentos com Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Policial militar de formação, no Congresso, Major Olimpio tinha como principal bandeira a defesa das forças de segurança pública. Foi um dos responsáveis pela criação da Comissão de Segurança Pública do Senado, aprovada em março deste ano, quando Olimpio já estava internado. Era, inclusive, um dos cotados para presidir o colegiado.
Afável com colegas
Durante discursos nas tribunas da Câmara e do Senado, com frequência, repetia aos gritos a palavra “vergonha” para demonstrar insatisfação com votações e alguns acordos partidários. Era famoso pela potência vocal. Muitas vezes, colegas diziam que Major Olimpio não precisava de microfones para ser ouvido. Apesar da postura incisiva, era afável no trato com os parlamentares e com a imprensa.
Lançou-se candidato à presidência do Senado duas vezes: 2019 e 2021. Nas duas ocasiões, contudo, retirou a candidatura no dia da eleição. Além da defesa de policiais, Olimpio foi um dos protagonistas na articulação pela derrubada do veto do presidente Jair Bolsonaro à prorrogação, até 2021, da desoneração da folha de pagamentos de empresas de 17 setores da economia.
O parlamentar por São Paulo fazia parte do grupo Muda Senado, que reivindica o fim do foro privilegiado, a prisão após condenação em segunda instância, e mudanças no Supremo Tribunal Federal (STF).