Evanilson de Souza falava a 2 mil pessoas sobre programa de combate ao racismo da Polícia Militar de SP. Hackers invadiram a plataforma e o ofenderam.
“Nossa luta continua. Ela é presente”, disse nesta quarta-feira (10) o tenente-coronel da Polícia Militar (PM) de São Paulo Evanilson de Souza sobre ter sido alvo de ataque racista feito por hackers, no dia anterior. Ele foi chamado de ‘macaco’ e outras ofensas durante palestra virtual organizada pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).
O oficial, que é negro, foi xingado e recebeu palavras de ódio enquanto falava para 2 mil pessoas, a maioria policiais, sobre o programa de combate ao racismo que desenvolve na PM.
Na manhã desta quarta, ele foi a uma delegacia na Zona Oeste da capital para tentar registrar boletim de ocorrência por racismo e invasão cibernética. Evanilson quer que a Polícia Civil instaure um inquérito para investigar o caso e buscar identificar e prender os responsáveis pelas ofensas.
A PM repudiou o ataque racista ao coronel com uma nota divulgada em suas redes sociais. A corporação reforçou sua posição contra a discriminação e informou que tem como “missão promover os direitos humanos.”
O Instituto de Relações Internacionais da USP divulgou nota na qual classifica o que aconteceu com Evanilson como “crime inaceitável que fere os princípios constitucionais da honra e dignidade da pessoa humana”. Os coordenadores do curso enviaram denúncia à uma delegacia especializada.
Ataque racista
“É um crime de racismo aliado a um crime cibernético”, afirmou o oficial da PM, que quer que o autor ou os autores do ataque sejam identificados, presos e punidos. Até a última atualização desta reportagem, o boletim de ocorrência do caso ainda não havia sido registrado no 14º Distrito Policial (DP), em Pinheiros.
Segundo Evanilson, um hacker que invadiu a plataforma começou a escrever palavras racistas sobre a tela compartilhada da palestra quando o coronel começou a falar. Também foram enviados comentários de preconceito no chat. O curso chegou a ser interrompido em razão das ofensas. Depois foi retomado em outra plataforma.
“Me sinto como um homem negro que foi afrontado por indivíduos que tentaram desqualificar a minha qualidade profissional e de ser humano”, lamentou Evanilson. “Isso que acontece no dia a dia do homem negro, da mulher negra, dentro de um espaço racista estruturalmente.”
https://youtu.be/MzrybvqBszM
‘Não é uma luta pessoal’
Evanilson falou ainda que vai usar o ataque racista que sofreu para se tornar mais forte no combate a ele. “Nós não vamos esmorecer. Isso não é uma luta pessoal . isso não é uma luta da comunidade negra. Isso é uma luta da sociedade brasileira”, falou o coronel. “Porque enquanto o Brasil não eliminar racismo nós não conseguiremos evoluir socialmente, economicamente”.
O ouvidor da polícia, Elizeu Soares Lopes, que também é negro, prestou solidariedade ao coronel. “Atenta-se contra o Estado. Ele foi agredido de uma forma covarde e simbólica. Estava tratando de uma palavras com a temática étnico racial”, falou Elizeu, que também é negro.
Ele falava sobre o programa de combate ao racismo que desenvolve na corporação quando um dos participantes começou a escrever ofensas sobre a tela compartilhada. Evanilson tem 50 anos e comanda o 11º Batalhão da PM, na área dos Jardins e Consolação, região central da capital paulista.