‘Tentei cortar meu pênis aos 6 anos’, conta primeira transexual guarda civil

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Ainda assim ela destaca a possibilidade de as mulheres trans serem o que quiserem ser.

Por Yahoo Vida e Estilo

Abby Silva Moreira, 42, é a primeira mulher transexual a integrar a guarda civil municipal de Jaboatão dos Guararapes, segunda cidade mais populosa de Pernambuco. Mas até chegar a essa posição foi preciso superar muitos obstáculos — alguns deles na infância. “Não foi fácil”, afirma ela antes de relatar suas lembranças. Ainda assim ela destaca a possibilidade de as mulheres trans serem o que quiserem ser.

Claro que para nós tudo é bem mais difícil. Mas como muita garra e luta, podemos combater o preconceito mostrando nosso valor e nossas competências“, afirma Abby, que diz nem ser possível contar quantas vezes ela chorou ou foi alvo dos olhares desconfiados de uma sociedade que, segundo ela, ainda é muito machista. “Mas isso está mudando”, diz esperançosa.

“Aos 6 anos, tentei cortar o meu pênis com um tesoura

Ela veio ao mundo como Abimael Silva Moreira, mas, apesar das características físicas masculinas, nunca se reconheceu como pertencente ao gênero. Ainda assim demorou a compreender, e claro, se autoaceitar. Aos 35 anos, mesmo sem nenhum apoio da família, resolveu passar por cima do preconceito e dar início ao processo de transição para Abby Silva Moreira — alguém que sempre foi, ainda que não estivesse estampado nos documentos, nas roupas que era obrigada a vestir ou em seu corpo.

“Lembro-me que desde os 4 anos de idade adorava vestir as roupas da minha irmã. Aos 6, tentei cortar o meu pênis com um tesoura“, conta Abby, que só foi ter a real compreensão desses sinais na adolescência. Ainda assim, por vir de uma família extremamente religiosa, a primeira ação foi se renegar.

Me achava uma aberração, uma pecadora

E, por mais de 30 anos, ela tentou viver no padrão binário — quando você se identifica com o gênero com o qual nasceu — para evitar o preconceito, principalmente dos familiares.

Mas depois de muito tratamento psicológico, ela resolveu priorizar a felicidade e ser quem ‘verdadeiramente era’. Sem o apoio da família, da qual não tem contato desde então (exceto com a mãe), o processo de transição começou com a terapia de reposição hormonal, a cirurgia de voz, a prótese mamária e a troca dos documentos.

Agora, para completar definitivamente esse processo, Abby espera na fila do SUS (Sistema Único de Saúde) para fazer a vaginoplastia — um tipo de cirurgia de redesignação sexual que se configura na criação ou reforma cirúrgica de tecido para construir uma vagina. “Desse ano não passa”, diz ela.

Sem emprego formal, o jeito foi prestar concurso

“Há muitas desculpas para a reprovação no processo seletivo”

Formada em Administração de Empresas, Abby conta que decidiu prestar o concurso para a guarda civil municipal após encontrar muitas dificuldades de conseguir uma recolocação no mercado de trabalho. “No mercado de trabalho, o preconceito é velado. Há muitas desculpas para a reprovação no processo seletivo, mas, na verdade, sabe-se que o único motivo é o fato de você ser transexual. E, se  passasse no concurso, ninguém ia poder me impedir de assumir o cargo.”

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