Trabalhadores do SAMU em São Paulo decidem paralisar serviço por 48 horas

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Socorristas reivindicam a suspensão da reorganização do serviço, que avaliam como perigosa à população, por aumentar o tempo de resposta aos chamados, além de reduzir o número de ambulâncias disponíveis.

Após paralisar o serviço por 10 horas na segunda-feira 1º, os trabalhadores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da capital paulista realizaram uma assembleia no Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo e decidiram repetir e estender a paralisação na próxima semana. A greve de advertência será de 48 horas, a partir da meia-noite da terça 9, até a quarta-feira 10.

Os socorristas reivindicam a revogação da reorganização do serviço pela gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), por meio da portaria 190/2019 SMS. O documento determinou o fechamento de 31 bases, a instalação dos socorristas em locais sem estrutura adequada e a divisão das equipes. Sendo serviço essencial, a paralisação do Samu será parcial.

“Lançamos mão da paralisação já que os canais de negociação formais se esgotaram quando os representantes da administração do Samu não compareceram à Mesa Setorial de Negociação Permanente de Secretaria Municipal da Saúde (SMS), ocorrida no dia 26 de março, bem como nenhum representante do SAMU, nem da SMS, compareceram na audiência pública da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de São Paulo, no dia 27 de março”, explicam os trabalhadores em nota divulgada ontem.

A principal preocupação dos trabalhadores é que a reorganização leve a um aumento no número de mortes. “A cada minuto nós perdemos 10% de chance de salvar uma vida em uma ocorrência grave. Após 10 minutos, a chance de salvar uma pessoa infartada é zero. A prefeitura chama de reorganização, mas é um desmonte”, disse o diretor de comunicação do Sindicato dos Médicos do Estado, Gerson Salvador, na reunião da Comissão de Saúde.

“Com esse desmonte, a prefeitura e a administração do Samu estão assumindo o risco de aumentar o tempo de resposta das ocorrências e, com isso, também assumem o risco de aumentar as contaminações e mortes nos atendimentos realizados. De forma alguma os trabalhadores querem causar problemas à população. Os atendimentos de emergência vão continuar durante a paralisação, mas focados nos casos de maior complexidade, de mais urgência”, explicou a socorrista Glaucia Fernandes.

Os trabalhadores vão entregar na terça-feira 2, um ofício ao prefeito com as reivindicações da categoria e um pedido para que seja aberta uma mesa de negociação. Além da suspensão da portaria, os trabalhadores querem a abertura de concurso público para cobrir o déficit de 1.650 profissionais; retorno das equipes para as bases modulares e dos plantões de 24 horas; fim do “espelhamento de ambulâncias” – operação de veículos por apenas 12 horas e não 24 horas como determinado nas regras do Samu, entre outros itens.

“Mudanças são necessárias no Samu de São Paulo, mas não queremos mudanças que prejudiquem os trabalhadores, que piorem a qualidade da assistência à população, que aumente o tempo de resposta das ocorrências e que gerem riscos de contaminação e morte. Por isso queremos discutir com seriedade técnica e política todas as variáveis colocadas no processo de descentralização, para que nem o cidadão paulistano, nem o trabalhador saia prejudicado”, ressaltam os trabalhadores.

A gestão Covas determinou o fechamento de 31 bases do Samu e transferiu as equipes para unidades de saúde municipais. A proposta da gestão é ampliar de 55 para 71 os pontos de assistência do serviço. Porém, 26 dos novos locais só funcionam em dias úteis, durante o dia, o que pode limitar o período de atuação das equipes médicas. São Unidades Básicas de Saúde (UBS), de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e Centros de Atenção Psicossocial (Caps) que funcionam das 7h às 19h. A medida visa economizar R$ 5 milhões por ano com o aluguel das bases modelares.

Com o aumento dos locais, as equipes que ficam em duas ou três por base, agora são uma ou duas por ponto. Os trabalhadores avaliam que essa redistribuição das equipes vai impedir que os socorristas atuem no atendimento ao paciente antes de chegar ao hospital. Hoje a equipe de suporte básico é composta por enfermeiro, auxiliar de enfermagem e motorista. O enfermeiro pode prescrever medicamentos conforme os protocolos de saúde. Mas a reorganização deixa algumas equipes só com auxiliar de enfermagem, o que limita o atendimento que pode ser prestado no caminho.

A nova escala de atuação do Samu revela que a prefeitura não está colocando todas as ambulâncias à disposição da população 24 horas por dia. Algumas bases operam com um veículo durante o dia e outro veículo durante a noite, reduzindo o número de carros em operação de 122 para aproximadamente 80 por turno, segundo os trabalhadores. Os profissionais também reclamam que o processo de reorganização os retirou das bases descentralizadas e colocou em locais que não têm condições de trabalho adequado. Faltam banheiros para higienização de equipamentos e dos próprios socorristas, que nas ocorrências muitas vezes lidam com sangue, vômito e fezes.

A nova distribuição geográfica das unidades não muda muito a área de cobertura das ambulâncias, mas deixará algumas áreas mais descobertas. Haverá mais veículos ao longo do trajeto da avenida Marginal Pinheiros (aumentando de seis para 11) e na subprefeitura da Sé (de quatro para oito). A região de Marsilac, no extremo sul da cidade, deixará de ter uma base, e, no extremo norte da cidade, em Perus, Anhanguera, Jaçanã, Brasilândia e Cachoeirinha, nada muda. O Grajaú passa a contar com três bases, mas todas relativamente próximas da base atual. A região do Jabaquara passa a ter três bases, e o Sacomã fica vazio.

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