Vítima relata revolta com decisão que extinguiu processo contra guru acusado de abusos sexuais

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Ministro entendeu que as vítimas deveriam ter denunciado o caso em até seis meses após os crimes; advogada contesta e aponta que na época elas não tinham consciência de que estavam sendo vítimas durante rituais.

Uma das mulheres que denunciaram um guru espiritual de Piracicaba (SP) por abuso sexual relatou à EPTV, afiliada da TV Globo, sentimento de revolta com a decisão recente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que extinguiu o processo.

O Tribunal entendeu que as vítimas deveriam ter denunciado o caso em até seis meses após os crimes, mas os relatos foram feitos depois desse prazo. Pela primeira vez, uma das vítimas falou com uma equipe de reportagem. “Quando eu dei por mim, eu tava imobilizada e dizendo pra ele parar porque ele tava me machucando, e ele simplesmente não parou, ele continuou. […] Foi o [momento] mais traumático de todos pra mim”, relatou a mulher, que pediu para não ser identificada.

“Mesmo com o meu ‘não’, mesmo dizendo que aquilo tava machucando… Cara, se isso não é estupro, eu não sei o que é”, acrescenta.

Ela é uma das quatro denunciantes que em 2019 procuraram o Ministério Público para relatar abusos sexuais e psicológicos sofridos durante sessões de terapia ministradas pelo guru espiritual Diógenes Mira, mais conhecido como Ananda Joy, em um instituto em Piracicaba. “Quando eu comecei a ver as reportagens que saíram de outros mestres espirituais, no ano de 2018, eu comecei a me reconhecer naquelas reportagens e foi ali que eu tive um insight de que o que eu vivi, na verdade, é crime. E foi aí que eu considerei fazer uma denúncia pela primeira vez”, relata a vítima.

O guru espiritual foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público por violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável. O STJ extinguiu o processo que investigava os casos de violação sexual mediante fraude. “Foi muito revoltante. É uma sensação de ser silenciada, de injustiça, não só a mim, quanto às outras denunciantes, mas a todas as mulheres”, lamenta.

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