PUBLICIDADE
Ex-freira e ex-padre participam da ação social no centro de São Paulo e ressaltam resgate da dignidade das pessoas em situação de vulnerabilidade.
O mutirão da Polícia Civil para emitir RG das pessoas em situação de rua segue ajudando muitos brasileiros em condições precárias de sobrevivência a enfrentar a epidemia de Covid-19. Com o documento, pessoas sem emprego formal e sem renda fixa podem recorrer ao auxílio emergencial de R$ 600 aprovado pelo Congresso Nacional para reduzir os impactos da crise sanitária e econômica.
O serviço é oferecido na sede do IIRGD (Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt), órgão da Secretaria de Segurança pública responsável pelos registros dos cidadãos em São Paulo, e está sendo transformador, além dos próprios beneficiados, também para voluntários alistados no atendimento ao público.
O ato de ajudar essa população vulnerável e extremamente carente está sendo uma realização pessoal para os profissionais da PC, inclusive aqueles com experiência em serviços comunitários, como nos casos da escrivã aposentada Ana Maria Rodrigues Martins Vicentini, e o agente de telecomunicações do Cepol (Centro de Comunicações e Operações da Polícia Civil), Lindomar Bezerra Rulim.
Ana Maria, que é tratada por colegas como Santinha, foi freira, passou três anos no Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz, no Centro de São Paulo, há anos é voluntária em trabalhos sociais, e trabalhou na polícia durante 30 anos, até se aposentar como escrivã do IIRGD, em 2015. Lindomar passou 26 anos na igreja, 10 como sacerdote, e está na PC há sete. Como padre, atuou em regiões pobres de Buenos Aires, na Argentina, no período em que Jorge Bergoglio, o Papa Francisco, era Arcebispo da região e comandava ações sociais em comunidades carentes na capital do país vizinho.
Ambos relatam a vivência no mutirão como um trabalho humanitário, muito importante por garantir as condições de cidadania dessa população, mas, acima de tudo, por representar uma possibilidade de resgate da autoestima e de esperança para cada indivíduo atendido no IIRGD. “Mais do que qualquer coisa, estamos ajudando essas pessoas a resgatar sua dignidade; e o ponto de partida disso é a identidade. Toca o coração quando eles recebem o documento e expressam uma alegria como se ganhassem na loteria”, resume Rulim. “Eles ficam felizes por receber um olhar, um gesto amigo. Isso mexe muito com a gente. Não com o físico, mas com o emocional”, completa Ana Maria.
Tanto para a escrivã quanto para o agente de telecomunicações, estar na linha de frente do combate à Covid-19 é como um chamamento vocacional, uma missão que diz respeito aos valores cristãos praticados durante toda a vida. “Dói na alma não poder ajudar os irmãos que necessitam. É um privilégio poder estar aqui e praticar o amor ao próximo, afirma Ana Maria.
Para Lindomar Rulim, o mutirão é um dos muitos momentos em que são reveladas semelhanças entre o sacerdócio e o trabalho policial. “Seja na polícia ou na igreja, a vida é tratada como prioridade. A polícia também defende a vida, a dignidade e a justiça”, reforça.
Riscos e prevenção
Os riscos de contaminação pelo Coronavírus não são ignorados pelos voluntários. Ana Maria e Lindomar são conscientes de que o contato com outras pessoas é uma ameaça para qualquer trabalhador de serviços essenciais em tempos de pandemia. Mas a possibilidade de contrair a doença não foi suficiente para reduzir o desejo de ser solidário. A estrutura de segurança montada pela Polícia Civil no atendimento, assim como a fé nas orações, também foi determinante na decisão de participar dessa ação.
“É tudo muito organizado. São fornecidos todos os equipamentos necessários e há um cuidado grande com a higiene e o distanciamento entre as pessoas. O que eu diria para Jesus se eu não tivesse ido lá ajudar esses irmãos?”, ressalta Ana Maria. “Tenho ótima saúde, nunca bebi, nunca fumei e sempre me cuidei. Graças a Deus estou aqui”, completa a escrivã, que mora sozinha e nesse período de quarentena evita contato com parentes e amigos.
Lindomar é casado, tem filhos pequenos e, por precaução, mantém-se isolado em casa para evitar contato com a família. “Sofro muito por não poder abraçar meus filhos e minha esposa. Por outro lado, sinto uma alegria imensa por poder colaborar com quem precisa. É uma realização semelhante ao que experimentei no sacerdócio. É um sentimento diferente. É fantástico”, revela.
Os dois voluntários também dividem sentimentos semelhantes ao final de cada jornada no mutirão. Segundo eles, a certeza de que o trabalho fará muita diferença na vida de diversas pessoas compensa todo o esforço e o desprendimento envolvido. “Quando o trabalho termina, saio muito cansado, mas retorno para casa extremamente feliz”, afirma Lindomar. “Quando fazemos algo por amor, tudo é diferente. E o que fazemos aqui é isso. Na verdade, é muito simples. É só amar”, finaliza Ana Maria.
O mutirão
O mutirão do IIRGD para atender moradores de rua iniciou o atendimento no dia 5 de maio e deve manter as atividades durante todo o período de quarentena. A Defensoria Pública e a Guarda Civil Municipal de São Paulo também participam dos trabalhos. Nas primeiras duas semanas de funcionamento, o serviço emitiu cerca de 3.300 documentos.
Para ser recebido no IIRGD, os interessados devem agendar dia e horário pelo telefone 3311-3202. Além da sede do instituto, na Avenida Cásper Líbero, 370, centro, outros quatro pontos na cidade estão prestando o serviço desde o último dia 12, em unidades da GCM:
Região Norte
Praça Heróis da FEB, s/n – Santana
Região Sul
Rua Cassiano dos Santos, 499 – Jardim Cliper
Região Leste
Estrada de Mogi das Cruzes, 1860 – Burgo Paulista
Região Oeste
Rua Major Paladino, 180 – Vila Leopoldina
A GCM também faz agendamentos pelos telefones 3396-5870, 3396-5880 e pelo aplicativo whatsapp, no número (11) 97492-5421.
PUBLICIDADE