por Nando Pires
O Brasil tem aproximadamente 200 milhões de habitantes e se fizermos um cálculo bastante simples, podemos mensurar a quantidade de pessoas que cada ministro do Supremo Tribunal Federal representa (ou deveria representar)
Basta dividir o total da população do país por 11 (a quantidade de ministros) e chegamos ao resultado de que cada membro da suprema corte equivale a 18 milhões, 181 mil e 818 habitantes.
Vê-se nitidamente que o poder acumulado nas mãos de cada uma dessas 11 pessoas é descomunalmente enorme e se pensarmos exclusivamente na última e fatídica votação que o STF realizou (onde derrubou a prisão à partir dos julgamentos realizados em segunda instância), temos um placar de 6 votos vitoriosos sobre 5 vencidos, de forma que se dividirmos o total da população brasileira pela maioria simples dos 6 votos, chegamos ao impressionante resultado de que cada um, daquela meia dúzia de votos, representam 33 milhões, 333 mil e 333 cidadãos.
Para se ter uma ideia, a Argentina tem aproximadamente 45 milhões de habitantes, o que não chega a atingir a quota populacional de apenas 2 ministros do supremo (considerado a maioria simples) e não atinge a soma de 3 ministros, se tomada a corte em sua totalidade.
A leitura que podemos fazer a respeito dessa relação de dependência e submissão que um povo inteiro, composto por duas centenas de milhões de pessoas, ao ficar nas mãos de apenas 11 pessoas (o simples número de jogadores de um time de futebol, sem contar os reservas e a equipe técnica) é que alguma coisa está errada… Muito errada, mesmo!
Vi incontáveis publicações nas redes sociais e também fui abordado presencialmente por diversas pessoas que se expressaram sobre a derrubada da prisão em segunda instância e nenhuma delas foi de elogio à decisão tomada pelos ministros. Então, tomando apenas os meus universos on-line e off-line como universo de pesquisa, posso concluir que 100% da minha network foi contrariada! O que nos deixa ao menos 4 perguntas: Quem esses 6 ministros realmente representam?! Como se pôde dar tanto poder a tão poucas pessoas?! Porquê 200 milhões de pessoas não valem por 6 pessoas com o status de ministro do STF?! Que tipo de cidadãos especiais e privilegiados são os ministros da suprema corte, em face das pessoas ditas “normais”?!
Realmente me sinto indignado com o resultado desse último julgamento, até porque a função da suprema corte não é a de legislar e portanto, eles extrapolaram as suas atribuições.
Confesso que também não me sinto representado por grande parte dos políticos eleitos em nenhum dos pleitos que passe durante minha vida de eleitor, inclusive por vários candidatos nos quais eu mesmo votei e pensando nisso… Praticamente todos (ou a grande maioria) os políticos que ajudei a eleger, traíram seus próprios discursos e promessas, mudaram suas condutas éticas e findaram por trair seus próprios eleitores, inclusive a mim.
Trago a fala do atual ministro da fazenda, Paulo Guedes, que em uma de suas entrevistas disse que o Brasil tem 200 milhões de otários sendo atendidos por meia dúzia de bancos e que a concorrência no setor financeiro deveria ser muito maior, tendo uma quantidade enorme de importantes entidades financeiras oferecendo seus serviços ao mercado.
Traçando um raciocínio análogo para o setor público, vemos que somos 200 milhões de babacas representados por apenas 11 ministros do STF, 81 senadores, 513 deputados federais e 1 presidente da república com 22 pastas ministeriais. Ou seja, uma ínfima minoria manda e desmanda em tudo e em todos. Todos os direitos e deveres de cada um dos 200 milhões de habitantes está nas mãos de apenas 628 pessoas que detém poderes federais de decisão e de execução.
Brasília e sua realidade palaciana, na ostentação dos seus ricos brioches e no enorme distanciamento de seus membros da dura realidade das pessoas do povo, simplesmente faz pouco caso desse feudo chamado Brasil. Realmente vivemos em um “arraial do cu do mundo”, como diz meu querido Lobão! Ao elegermos nossos governantes (que posteriormente indicam os ministros do STF), lhes entregamos o chicote pelo cabo e ficamos sujeitos ao estalar da outra ponta da chibata em nossas costas.
No Brasil o crime compensa!
Não sei como desejar um ótimo final de semana, revigorante e divertido, depois desse último tapa na cara que o povo brasileiro acabou de levar…